Durante a pandemia do novo coronavírus, a jornada de trabalho do entregador de empresas de aplicativos disparou, uma vez que profissionais como esse jovem de 27 anos tornaram-se essenciais no Brasil para distribuir alimentos, remédios e compras feitas pela internet. Mas a dependência cada vez maior dos entregadores no período de isolamento social evidenciou também a precarização das condições de trabalhado da categoria no país. Para fins fiscais, eles são autônomos e, em geral, não possuem proteções laborais ou seguros contra acidentes.
Esses trabalhadores que têm na entrega por aplicativos a única ocupação possuem jornada de semanal 64,5 horas ou 10 horas e 24 minutos por dia. Em média, atuam 6,16 dias por semana, sendo que 40% deles trabalham todos os dias. Considerando a jornada normal de 44 horas, é como se fizessem 20 horas extras todas as semanas.
A informação é de pesquisa inédita realizada pela Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que acompanhou 103 entregadores (72 motociclistas e 31 trabalhadores em bicicletas) nas cinco regiões do Brasil, contemplando 38 cidades de 19 estados. A idade varia entre 18 e 50 anos, e, em média, trabalham para as plataformas de aplicativos há dez meses.
Além das longas jornadas e dos baixos rendimentos, os entregadores acreditam sofrer uma pressão intensa e arbitrária para seguir as ordens dos "aplicativos". Por exemplo, 82% dos entrevistados conhecem alguém que já foi bloqueado (o que significa uma suspensão temporária do trabalho). Sem contato pessoal, as empresas tomam decisões unilaterais e costumam enviar mensagens-padrão genéricas quando questionadas pelos trabalhadores. Não bastasse tudo isso, 33% dos entregadores informaram terem sofrido acidente no trabalho atual. Somados aos que conhecem alguém que sofreu acidente, são 70% dos entrevistados. Dos acidentados, 83% criticaram a falta de apoio da empresa ou foram bloqueados após o infortúnio.
Apesar desse cenário de precarização, um pouco mais da metade (54,4%) dos entregadores afirma não querer ter carteira assinada. Desses, 81% apontam como razão para não quererem a formalização do contrato de emprego a possibilidade de piora nos rendimentos e a redução da sua liberdade e flexibilidade que acreditam que a celetização provocaria.