Uso de Bicicleta cresce em tempos de pandemia

04 de Fevereiro de 2021, 06:42

Recorde de vendas desde o início da pandemia da Covid-19, a bike já é considerada o veículo do futuro. Por conta das recomendações de distanciamento social, muita gente passou a usar a bicicleta como meio de locomoção alternativo ao transporte público, ou como opção de lazer e atividade física. A procura foi tanta que faltou produto nas lojas. As fábricas ainda sofrem com a dificuldade de importações por questões logísticas e com a concorrência do mercado internacional, já que a corrida por bicicletas foi um fenômeno global.

No Brasil, ao longo de 2020, o setor comemorou recordes: em maio e junho, o aumento nas vendas foi de 50% em relação ao mesmo período de 2019. Em julho, a alta foi de 114% e, em agosto, de 93%. Em setembro e outubro, o crescimento foi de 64% em comparação com os mesmos meses de 2019 (os números totais de 2020 ainda não foram consolidados). Os dados são da Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas).

“O boom que o mercado de bikes viveu em 2020 foi algo inédito. Os números não traduzem o tamanho da procura, pois problemas no fornecimento da cadeia produtiva impediram muitas vendas”, diz Daniel Guth, diretor-executivo da Aliança Bike.

De acordo com Guth, ainda não é possível afirmar se as bikes vieram para ficar, pelo menos no Brasil. “Os lojistas nos dizem que as pessoas estão comprando bikes, mas não estão comprando acessórios, o que dá a entender que elas não estão usando tanto a bicicleta ou não como deveriam. Faltam indicadores para determinar se as pessoas vão, de fato, introduzir a bicicleta em suas vidas. Não temos dados consolidados sobre aumento do uso como meio de transporte, não temos números de eventos de ciclismo, pois os eventos não estão acontecendo por causa da pandemia, faltam referências”, pontua. 

Segundo Daniel Douek, diretor da Isapa, distribuidora de peças e acessórios de bicicletas, e da fábrica de bikes Oggi, o mercado segue aquecido. A dificuldade para ele, porém, é a alta dos preços das matérias-primas importadas e do frete. “Acredito que, em algum momento, o mercado vai se estabilizar, até mesmo por causa da alta nos preços. Esperamos que essa acomodação ocorra em patamares um pouco acima do que estava antes da pandemia”, diz Douek.

Para o diretor da Aliança Bike, a adesão à bike depende de dois fatores principais: a experiência pessoal, ou seja, se a pessoa experimentou a bicicleta e considerou que ela atende suas necessidades; e a infraestrutura dos lugares, sejam eles cidades ou trilhas de cicloturismo, o que depende dos governos. “Infelizmente, o poder público não fez sua lição de casa na pandemia, considerando o aumento do consumo de bikes. As políticas públicas não acompanharam a tendência. Como associação, a gente lamenta ter perdido a oportunidade de dar um salto no uso das bicicletas, já que a infraestrutura não acompanhou o interesse das pessoas”, afirma Guth.

Para tentar agir nessa causa, a associação elaborou um conjunto de propostas que poderiam ser implementadas pelo poder público para estimular o uso das bicicletas durante a pandemia e depois dela. Confira:

Ampliar rede de ciclovias, ciclofaixas, bicicletas compartilhadas e bicicletários permanentes nas cidades brasileiras, além de permitir maior acesso de bicicletas ao transporte coletivo (intermodalidade).

Reduzir a carga tributária sobre as bicicletas, para que a população tenha acesso a bicicletas mais baratas e de maior qualidade.

Criar uma linha de crédito atrativa, junto aos bancos públicos, para financiamento de aquisição de bicicletas e bicicletas elétricas pela população brasileira.

Distribuir um voucher de R$ 100 para custear especificamente a revisão e o conserto de bicicletas usadas pela população.

Alterar legislação trabalhista para obter pleno reconhecimento da bicicleta como meio de transporte por trabalhadoras e trabalhadores, incluindo a manutenção do vale-transporte pelo uso de bicicleta.

Criar uma política nacional de ciclologística para estimular e dar segurança às entregas feitas em bicicletas em todo o país – desde sempre consideradas um serviço essencial.

Criar políticas públicas (nacionais e regionais) para desenvolvimento do cicloturismo, como forma de aquecer o turismo no país com segurança e distribuição de renda.

Ofertar mais áreas para o ciclismo esportivo e para o lazer em todo o país.

Criar um programa nacional de fortalecimento da economia verde, estimulando setores produtivos que contribuem ativamente para o combate às mudanças climáticas.

Bons exemplos internacionais

Muitas dessas medidas já foram implementadas no exterior, principalmente na Europa. Portugal, Itália, França, Reino Unido, Alemanha, Holanda e Bélgica são alguns lugares que estão incentivando ativamente o uso da bicicleta, seja ampliando as vias para ciclistas, seja oferecendo reembolso parcial para quem compra uma bicicleta, entre outros estímulos.

 

Medium 730c7cfce843d00d23cf500e054b9770