Saiba porque evitar rotular crianças

02 de Dezembro de 2022, 06:40

“Ele é virado”, “Ela é tão boazinha", “Ele é manhoso”, "Nossa, que menino mais chorão!", "Como é possível alguém tão pequena já ser teimosa desse jeito?", "Que garoto inteligente, assim vai longe!". Muitos pais fazem comentários como esses aos filhos. Num primeiro momento, essas observações parecem inofensivas e até soam carinhosas. Aos ouvidos infantis, no entanto, têm o poder de uma sentença, pois trata-se de rótulos. Segundo especialistas, rotular uma criança, mesmo que em tom de elogio, é o caminho mais curto para podar seus potenciais futuros.

Segundo psicólogos, essa ação desencadeia a chamada profecia autorrealizadora, um prognóstico que, ao se transformar em crença, acaba se confirmando e se cumprindo. Um bom exemplo é a famosa pesquisa pioneira realizada em 1968 pelos psicólogos norte-americanos Robert Rosenthal e Lenore Jacobson.

A dupla selecionou crianças da mesma idade e com o mesmo nível intelectual e as separou em duas turmas, que seriam orientadas por duas professoras. Uma delas foi informada de que os alunos tinham um QI (Quociente de Inteligência) altíssimo e que, portanto, deveriam ser estimulados e desafiados. A outra, por sua vez, recebeu a instrução de que as crianças tinham dificuldade de aprendizagem e inteligência abaixo da média. Então, não podiam ser pressionadas nem cobradas demais. Alguns meses depois, eis o resultado: a classe estimulada atingiu níveis acima da expectativa; a outra, nem chegou onde deveria chegar.

Os rótulos mais comuns e suas consequências Independente do rótulo, a reação vai ser a mesma. Nos casos positivos, a criança sofre por ter sempre que ser perfeita; nos exemplos negativos, não consegue enxergar o seu potencial. Confira os rótulos mais comuns e porque devem ser evitados.

 

1. Boazinha ou obediente

Nenhuma criança é o tempo todo quietinha e queridinha. Esse rótulo está ligado à passividade e ensina que a criança deve aceitar certos tratamentos sem questionar, caso contrário será destituída do trono de boazinha. A criança será muito crítica e rígida com ela mesma e não vai aceitar nada menos do que a perfeição. Outro perigo é "engolir" sentimentos como a raiva por não se sentir no direito de mostrar seu lado "mau". Na idade adulta, pode produzir medo diante do fracasso e uma necessidade constante de corresponder às expectativas alheias.

2. Birrenta ou chorona

A birra e as crises de lágrimas servem para manifestar algo que incomoda e é a forma encontrada por muitas crianças para conseguirem se posicionar. Cabe aos pais mostrar outros modelos de expressão de sentimentos, sempre deixando claro que respeitam o que a criança mostra. "Respeito sua raiva, mas hoje não vou poder comprar esse brinquedo" é um bom exemplo.

3. Teimosa

Chamar a criança o tempo todo de teimosa faz com que ela assuma o poder da situação e passe a acreditar que não pode ser contrariada. No futuro, será um adulto com baixa tolerância à frustração e com dificuldade nos relacionamentos.

4. Tonta ou lerda ou desligada

O fato de uma criança não prestar atenção em algo num determinando momento não deveria ser motivo para que cravassem nela um estigma. Em situações como essa, os pais devem ajudá-la a ter mais foco buscando estratégias para que não se disperse tanto. Esse rótulo pejorativo reserva um perigo: a criança entende que ser assim costuma chamar a atenção e que as pessoas gostam dela por ser mais lenta.

5. Preguiçoso

Em vez da crítica, por que não ensinar a criança a ter mais atitude e proatividade? Muitos pais que reclamam de filhos preguiçosos, na verdade, são responsáveis por essa característica por fazerem tudo por eles ou criticar suas iniciativas, contribuindo para o comodismo.

6. Sabe-tudo ou gênio

Elogiar é superimportante para autoestima da criança, mas rotular como gênio vai destruir o desenvolvimento porque, em algum momento, ela vai ter alguma dificuldade e perceber que os pais estão exagerados.

7. Impossível ou pestinha

Às vezes uma única travessura isolada é o bastante para definir a criança como "peste". Há o perigo de a criança internalizar que ser assim é bom para ela, pois está sempre no centro das atenções. Pode contribuir para o desenvolvimento de uma personalidade mais focada em atenção.

8. Palhaça

Ao ser rotulada, a criança que é engraçada e brincalhona muitas vezes não vai saber se comportar socialmente, achando que fazer graça é inerente a todas as relações humanas. Os pais devem pontuar que existem momentos para isso.

9. Bagunceiro

É um rótulo muito ruim, porque poda na criança a possibilidade de compreensão sobre regras e ordens. Os adultos têm a responsabilidade de ensinar estratégias e integrar a criança à rotina de arrumação da casa. Ela precisa saber, por exemplo, que ninguém vai arrumar o quarto dela e que ela, portanto, vai ter que lidar com as consequências da bagunça.

10. Princesa ou príncipe

Em geral, esses rótulos são dados às crianças que se destacam pela aparência ou que têm uma característica física que se sobressai. Eles reforçam comportamentos egocêntricos e que valorizam o exterior em vez do interior. Meninos e meninas têm o direito de serem reconhecidos por outros atributos: simpatia, inteligência, bondade e etc.

 

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